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quinta-feira, 5 de dezembro de 2013

Notícias : OS NOVOS ATAQUES DO FENÔMENO

RONALDO / FENÔMENO


o pós-carreira do maior artilheiro de todas as copas: empresário e  comentarista (Foto: Mauricio Nahas/Revista GQ)
Aos 37 anos, três fora dos campos, Ronaldo ainda é o cara que “chama a responsabilidade para si”. Embaixador da copa 2014, é fundador da 9ine, agência que cuida da imagem de Anderson Silva e Neymar. A seguir, o craque fala sobre o Mundial, a própria carreira e dá um recado ao político Romário: “ele deveria assumir um papel mais importante”.


Felipão garante que o Brasil vai ganhar a Copa de 2014. Concorda?
É o grande favorito, depois da aula que deu na Copa das Confederações. A Alemanha, a Espanha e a Argentina vão ser seus principais adversários.

Nas manifestações que aconteceram em junho e julho deste ano, alguns protestos se referiam aos gastos relacionados à Copa. Esse investimento foi malfeito?
Não. Os gastos da Copa têm sido altos principalmente por causa dos estádios. Mas muito mais coisa está sendo feita. Por exemplo, em Cuiabá, não tinha obra há 40 anos. Agora tem mais de 60. É um transtorno para a população, mas vai virar uma cidade mais estruturada, com estradas novas, acesso ao centro e o aeroporto reformado. A Copa vai deixar um legado bom principalmente para as cidades-sede. Mas é lógico que o povo está exausto de ver o descaso que se tem com a educação, com a saúde e com a segurança. Essas manifestações estão sendo uma revolução fantástica e, na maior parte das vezes, pacífica. Está mais do que na hora de a gente reclamar de tudo o
que tem direito.

O Brasil está preparado para a Copa?
Mais do que preparado. O país já recebe milhões de turistas a cada ano... A Copa vai ser um show.

Não há nenhum gol contra na organização da Copa?
Como qualquer cidadão, qualquer brasileiro, eu sou e sempre fui contra corrupção e superfaturamento. Essas coisas não deveriam acontecer. Logicamente devem ter muitas coisas irregulares, como algum estádio ou outro com superfaturamento, com obra que começou com estimativa de um valor e terminou com outro. Mas não estou lá. Não contrato, não faço nada disso. Não tenho contrato com a Fifa. Eu sou um voluntário do Comitê Organizador Local.

Teremos um novo Ronaldo em 2014?
Acho que o Neymar vai ser o jogador de maior destaque. O Messi e o Cristiano Ronaldo também devem brilhar.

DOUTOR, EU NÃO ME ENGANO
O coração do Ronaldo é corintiano. “Criei uma relação de amor com o clube”, afirma ele, que encerrou ali a carreira de jogador

Que peso sente um menino como o Neymar ao entrar em campo sabendo que vale milhões e que há uma expectativa imensa em torno do seu desempenho?
Não tem peso. Existem vários tipos de liderança entre os jogadores – e em qualquer outro trabalho. Um é o líder falante, motivacional. Tem o líder de comportamento. E o líder de dentro de campo, que chama a responsabilidade para si. Eu sou esse. E o Neymar também. Ele vai assumir a responsabilidade, mesmo tendo 20 anos de idade. É natural.

O que mudou na sua vida quando você se tornou um ídolo?
Pouca coisa. O que tem de bom é a realização profissional. Eu sonhava em ser jogador de futebol. Consegui. Virei profissional. Com esse meu sonho, veio um monte de coisas. Você perde privacidade, tem a vida exposta na mídia. Em compensação, ganha muito dinheiro e milhões de portas abertas. Mas sempre fui centrado e pé no chão. Manter a essência da minha origem me ajuda a ter um equilíbrio. Do mesmo jeito que vou a um jantar com o presidente de um país, gosto de estar na favela ou em contato com o público, com o povo.

Qual foi o momento em que se deu conta do seu talento?
Sempre me destaquei entre os caras da minha idade. Nos jogos sempre fui escolhido entre os dois primeiros. Isso dá a entender que você é bom. Continuei me destacando. Não teve um momento que eu falei: “Vou voar, vou arrebentar”. Foi tudo acontecendo.

Mas no começo da carreira você era franzino, não tinha tanta força em campo.
As pessoas falam isso, mas eu discordo. Comecei no Cruzeiro pesando 76 kg. Quando ganhei a bola de ouro [em 1996], todo mundo achou que eu já tinha feito uma mudança no corpo, mas estava com 82 kg, ou seja, seis a mais. Não é nada. Antes eu estava na fase de crescimento, tinha 17 anos, praticava esporte e comia bem na Europa. Foi um crescimento normal. Você vê as pessoas que tomaram anabolizantes sofrendo agora com os efeitos colaterais.

Na Copa de 2002, houve rumores de que adotou o cabelo “cascão” para tirar o foco de uma lesão. Foi isso mesmo?
Foi. Eu estava com uma dor na virilha e faltavam dois dias para o jogo da semifinal. Já estavam falando da minha lesão. Então, cortei o cabelo e fui no corredor do hotel. Mostrei para os meus amigos e eles acharam engraçado. Aí falei: “Vou assim porque aí ninguém vai falar da lesão”. Dito e feito. Só falaram do meu cabelo. Consegui tratar, joguei ainda meio capenga, mas fiz o gol da semifinal.

Já pensou em ser treinador?
Não. Porque a rotina é igual à do jogador: treino todo dia e não ter tempo para a família. Apesar de meus 20 anos como jogador terem sido maravilhosos, não queria tudo de novo. Também não sou muito falante. Acho que não teria o dom para lidar com 20 e tantos jogadores.

Técnico ganha jogo?
Acho que a parcela do treinador é de 20%. Eu tive todo tipo de treinador, e o que mais gosto é aquele que motiva o atleta. Não gosto do treinador que instiga a briga, a desunião, o tipo ditadorzão. Esse cara tem o respeito do jogador, porque é seu superior, mas não tem sua admiração e amizade.

Que outros ingredientes são necessários para o time funcionar?
Disciplina, treino e humildade. Mesmo sendo um esporte coletivo, as pessoas têm de se preparar, individualmente, para o grupo andar.

Como comentarista da Globo, você já teve de criticar o desempenho de um jogador da sua agência?
O Neymar não me deu essa chance.

E se der, em algum momento?
Se ele jogar mal, qual o problema de eu falar isso? Todo mundo está vendo. O que não quero e não vou fazer – mas vejo muito na TV – é uma crítica ofensiva, quase um ataque pessoal ao cara, só porque errou uma bola. O comentarista e o narrador têm muito poder, então devem ter cuidado para falar. Estou ali para comentar a habilidade técnica e a atuação do jogador, e não o estilo de vida ou com quem ele namora.

"Alguns amigos me sondam para entrar na política. Se fosse para ser [político], queria ajudar no esporte brasileiro"
Qual sua opinião sobre o Bom Senso FC [grupo de jogadores que reivindica revisão do calendário de jogos, entre outras melhorias nas condições de trabalho]?
Acho ótimo discutir o que é bom para os atletas, mas não só para os de elite. Porque os jogadores de segunda, terceira e quarta divisão jogam só o campeonato estadual e depois ficam oito meses sem jogar, ou seja, sem trabalhar. No Brasil, apenas 2% deles ganham salários acima de R$ 10 mil. Noventa e cinco por cento ganham salário mínimo. É bom que esse movimento discuta também questões como as férias do jogador, os jogos noturnos ou à tarde, no verão. Os jogadores nunca foram uma classe com uma representação formal. As empresas discutiam o direito de transmissão, as agências vendiam os patrocínios, mas os atletas, que fazem o espetáculo, não são ouvidos. Em outros lugares, como a Argentina e vários países da Europa, os sindicatos param campeonatos para fazer suas reivindicações.

Já pensou em ser político?
Meus amigos políticos me sondam para isso, mas não tenho essa pretensão. Se fosse para ser, queria ajudar no esporte brasileiro. Articular algo importante.

É possível haver ainda uma dobradinha Romário-Ronaldo?
Não sei. Não sei os projetos do Romário e nem quero saber. Não tenho nada contra ele. O que ele pensa, não me importa. Porque é fácil só apontar e acusar. Ele poderia ter um papel no Brasil muito mais importante, principalmente com o cargo político que tem. Mas quer fazer uma oposição que não existe, uma oposição sozinho. A Copa vai acontecer, vai ser um sucesso, e depois? O que ele vai falar? Acho que poderia estar junto, melhorando a autoestima do brasileiro.

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