Publicidade:

terça-feira, 10 de dezembro de 2013

Esporte : Serpentes, cores, sabores: Galo chega ao reino encantado de Marrakesh

Delegação do Atlético-MG desembarca na tarde desta terça-feira em uma das cidades mais pitorescas do planeta para buscar o inédito título mundial de clubes

O chamamento para a oração se confunde com o som da flauta e com a cantoria sofrida que sai da boca dos encantadores de serpentes. É impossível não olhar para elas, tão absortas, parecendo hipnotizadas enquanto fazem uma espécie de dança involuntária. De tão dóceis, seus donos as pegam nas mãos e as envolvem no pescoço de turistas, em trocas de alguns dirhams, a moeda local. Os estrangeiros vão do asco às risadas. É um pequeno universo dentro de vários outros – o cavalo branco que desaba no chão ao se assustar com a multidão; a sinfonia de buzinas saídas de ônibus, carros, motos, bicicletas, todos ao mesmo tempo; os macacos de fraldas que ficam saltitando na direção dos visitantes. O reino encantado de Marrakesh, de tão exótico, não parece verdadeiro. É nele que o Atlético-MG desembarca na tarde desta terça-feira para tentar ser campeão mundial. 

A maior missão da vida do Galo acontece em uma das cidades mais pitorescas do planeta. Os jogadores pouco sentirão as cores e sabores de Marrakesh. Ficarão trancafiados em um hotel. Mas os milhares de torcedores que viajarão até a cidade poderão aproveitar, se divertir e até se espantar com um universo completamente diferente daquele a que estão habituados. 

Marrakesh mundial de clubes (Foto: Alexandre Alliatti)




Marrakesh fotos cidade (Foto: Alexandre Alliatti)
Artistas, contadores de histórias, comércio e trânsito caótico são marcas da "cidade vermelha"
(Foto: Alexandre Alliatti)

É tudo uma grande negociação. Chegar ao local significa já dar de cara com uma das cenas mais impressionantes de Marrakesh: os encantadores, suas flautas e as serpentes. Sacar a máquina para registrar uma foto do momento é a senha para um dos homens se aproximar com um chapéu na mão. Quer dinheiro em troca da permissão para o registro. Aí é aquilo: quanto mais gorda a gorjeta, maior será a atenção. O que inclui ter a cobra se enroscando no
pescoço do turista.

A cena é comum. Um homem pega uma das serpentes, a coloca sobre os ombros do estrangeiro, geralmente desconfiado, segura a cabeça dela e a passa nas mãos, nos braços e até no rosto da pessoa. Enquanto isso, faz uma espécie de prece, pedindo a proteção do réptil ao visitante. Claro, não passa de uma grande encenação, mas em algumas partes do Marrocos, especialmente na região do deserto, as serpentes são consideradas entidades premonitórias – e há quem leve a vida a segui-las e até, dizem, a se comunicar com elas.

É só o começo do festival de excentricidades. Outros animais e humanos dão ainda mais vida ao grande teatro aberto de Marrakesh. Homens domam pássaros e passeiam de mãos dadas com macacos. Contadores de histórias reúnem seu público e recriam lendas populares. Músicos tocam seus instrumentos. Atores improvisam apresentações, geralmente com homens se vestindo de mulheres, usando roupas típicas muçulmanas.

Conforme se aproxima a noite, surgem mais e mais barracas de comida. Marrakesh se orgulha de dois elementos: seu suco de laranja, tratado na cidade como o melhor do mundo (de fato, é imperdível), e suas tâmaras. Mas há todo tipo de alimento na rua: de pipocas a carnes típicas. O torcedor que estiver com pouco dinheiro pode economizar por ali. Aquele que estiver mais folgado tem a chance de se aventurar pelos restaurantes dali ou explorar locais de alta gastronomia espalhados pela cidade. Para isso, porém, terá que encarar um trânsito que beira a comédia.
DE ÔNIBUS A BURROS

Só faltam os camelos. Ônibus, caminhões, carros, pencas de motos, bicicletas, pedestres, carroças puxadas por cavalos e até burros solitários dividem as ruas em Marrakesh. De tão caótico, chega a ser engraçado – não para os estrangeiros que moram na cidade: eles costumam escancarar uma expressão de desamparo quando o trânsito dá um nó, o que está longe de ser raro.

Mosaico marrakesh (Foto: Alexandre Alliatti)
Mesquita, palmeiras, charretes e tâmaras: diversidades de Marrakesh (Foto: Alexandre Alliatti)

Não existem regras – até existem, mas ninguém parece dar bola para elas. A grande questão é que Marrakesh tem uma série de rotatórias, em que quase todos os sentidos são permitidos. Na base do grito, da buzina e dos gestos, um motorista indica a outro para que lado vai. Ou simplesmente vai sem indicar coisa nenhuma. É um acelera e para, acelera e para, acelera e para constante. Quanto menor o veículo, menor a preocupação – até chegar ao limite extremo com os pedestres, que se jogam na frente dos carros com uma habilidade que só anos de experiência no tema podem explicar.

Pequenos acidentes são corriqueiros. Motociclistas costumam beijar o asfalto e seguir viagem em seguida. Anormal é ver um burro perambulando pela estrada, como aconteceu nesta segunda-feira, alheio ao movimento – sem nenhum sinal de que seu dono estivesse por perto. Apesar do caos no trânsito, o policiamento é forte nas vias. É muito costumeiro que policiais parem carros para averiguar a documentação – muito mais do que no Brasil.
HOTÉIS LUXUOSOS E MENDIGOS

Marrakesh tem algumas daquelas contradições tão habituais no Brasil. Ao mesmo tempo em que conta com hotéis cuja diária passa de R$ 2 mil, tem mendigos espalhados pelas ruas. É comum pedintes abordarem turistas solicitando moedas.

A base da economia local é o turismo. Nos meses de setembro e outubro e em épocas festivas, como a virada do ano, a cidade costuma ficar lotada. Localizado no norte da África, Marrakesh fica muito perto da Europa (a frequência de rádios de Lisboa ou Barcelona pode ser ouvida em aparelhos de Casablanca), o que facilita o trânsito de estrangeiros.

E aí acontece um evidente choque cultural. Embora receptiva aos visitantes, Marrakesh é uma cidade predominantemente muçulmana. Abraços e beijos entre casais e roupas muito curtas podem causar problemas. O consumo de álcool em público e o uso de drogas podem levar o turista à prisão. A população é de aproximadamente um milhão de pessoas. É a quarta maior cidade do país, atrás de Casablanca, Fez e Rabat, a capital do Marrocos, mas, em termos de importância turística, supera todas as outras no país.



Marrakesh fotos cidade (Foto: Alexandre Alliatti)
Marrakesh é o principal polo turístico do Marrocos (Foto: Alexandre Alliatti)

É conhecida como “cidade vermelha” ou “cidade ocre” por causa da cor de suas construções. Tem 16km de muralhas em volta de si – uma antiga proteção contra invasores – e oferece lindos jardins aos visitantes. Em dezembro, é bastante fria à noite (pode ficar abaixo de cinco graus) e amena durante o dia (pouco acima de 20 graus).

Boa parte dos brasileiros que estarão no Mundial chegara a Marrakesh via terrestre. É o aeroporto de Casablanca que concentra os voos internacionais. Como são três horas de estrada entre uma cidade e outra, muitas vezes vale a pena o deslocamento de carro ou ônibus. E aí, dependendo do horário, um pôr do sol de impressionar dará as boas-vindas aos visitantes – sem cobrar nada por isso.

Marrakesh mundial de clubes (Foto: Alexandre Alliatti)
Cair da tarde na estrada que leva de Casablanca a Marrakesh (Foto: Alexandre Alliatti)

O Atlético vai a campo em Marrakesh no dia 18, contra o vencedor do duelo entre o Monterrey, do México, e o ganhador do jogo entre o Raja Casablanca, do Marrocos, e o Auckland, da Nova Zelândia. O estádio da cidade, construído em 2011, fica cerca de 10km afastado do centro. Também receberá as disputas pelo quinto e pelo terceiro lugares e a grande final.

Publicidade:

Nenhum comentário:

Postar um comentário

Publicidade :